Tio Salomão, o que faz com que tantos casamentos sejam marcados por frustração?
Pensando com as lentes de Eclesiastes.
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Ah, meu sobrinho, por que será que tantos casamentos enfrentam frustração? Essa é uma pergunta profunda e que toca nas verdades da vida. Deixa o tio Salomão te contar, com base no que aprendi e escrevi há muito tempo.
Primeiro, preciso dizer que muitas pessoas entram no casamento acreditando que ele vai preencher o vazio de suas almas ou trazer um propósito maior para a vida. Mas sabe o que eu descobri? “Tudo o que se faz debaixo do sol é inútil, é correr atrás do vento” (Ec 1:14). Isso significa que, se as pessoas não buscarem em Deus a fonte da verdadeira satisfação, vão acabar projetando no outro a responsabilidade de suprir algo que só o Criador pode dar. Esse tipo de expectativa só gera frustração.
Um escritor que eu gosto muito, escreveu:
A maioria das pessoas, se de fato aprendesse a olhar dentro do próprio coração, saberia que deseja muito, e intensamente, algo que não se pode ter neste mundo. Há todo tipo de coisa neste mundo que se oferece para concedê-lo a você, mas nunca cumpre a promessa. Os anseios que surgem em nós quando nos apaixonamos pela primeira vez, ou pensamos em um país estrangeiro pela primeira vez, ou tratamos de um assunto que nos arrebata pela primeira vez, são anseios que nenhum casamento, nenhuma viagem, nenhum aprendizado consegue satisfazer de verdade. Não estou me referindo agora ao que comumente se chamaria de férias, profissões ou casamentos malsucedidos. Falo dos melhores possíveis. Houve algo a que nos agarramos, no primeiro instante do nosso anseio, que logo se desvanece na realidade. Creio que todos saibam a que me refiro. A esposa pode ser fantástica, e os hotéis e a vista, excelentes, e a química pode render um emprego muito interessante: todavia, alguma coisa nos escapa1. — C. S. Lewis

Além disso, sobrinho, o coração humano tem um anseio pela eternidade (Ec 3:11), mas muitas vezes buscamos preencher esse anseio com coisas passageiras. O casamento é uma bênção de Deus, mas ele não foi feito para ser um substituto de Deus. Quando um marido ou uma esposa tenta encontrar no outro aquilo que só o relacionamento com o Criador pode proporcionar, a relação acaba se desgastando, pois ninguém pode carregar esse peso sozinho.
Outra questão importante é que, no casamento, convivemos muito de perto com as imperfeições do outro. Eclesiastes nos lembra que “não há um justo sequer na terra, ninguém que faça o bem e nunca peque” (Ec 7:20). Quando esperamos que o outro seja perfeito, ou quando não lidamos com humildade com nossos próprios erros, o orgulho e a falta de perdão começam a corroer a relação.
Agora, há também o fato de que muitos casais não aprendem a viver no presente e a desfrutar das bênçãos de Deus dia após dia. Eles ficam preocupados com o que não têm, com o futuro ou com o passado, e esquecem que “melhor é ter um punhado com tranquilidade do que dois punhados com trabalho e correr atrás do vento” (Ec 4:6). O contentamento no casamento vem quando ambos aprendem a valorizar os pequenos momentos e as dádivas que Deus lhes dá.
O casamento é uma bênção de Deus, mas ele não foi feito para ser um substituto de Deus.
Por fim, meu sobrinho, lembra-te sempre de que o casamento precisa estar firmado em Deus. Sem Ele, tudo fica mais difícil. Tema a Deus, viva sob a sua direção, e busque sabedoria para lidar com os desafios. Afinal, como escrevi, “tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem” (Ec 12:13). Quando colocamos Cristo no centro, até as dificuldades podem se tornar oportunidades de crescimento e amor.
Shalom, querido sobrinho!
Mere Christianity (diversas edições), livro 3, cap. 10, “Hope”.