Quando o carisma vale mais que a cruz

Quando a Igreja Pensa Como o Mundo | Devocional #01

“Portanto, ninguém se glorie nos homens; tudo é vosso, e vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. (1 Coríntios 3.21–23)

Nos tempos da igreja em Corinto, algo aparentemente simples estava causando profundas divisões: a preferência por certos líderes espirituais. Alguns diziam seguir Paulo, outros Apolo, outros Pedro. Essas escolhas não eram apenas preferência de estilo. Eram bandeiras que geravam facções dentro da igreja. Em vez de verem os líderes como servos, começaram a tratá-los como representantes de pequenos grupos rivais. Por trás disso havia uma mentalidade perigosa: a sabedoria do mundo estava moldando a forma como eles viam a igreja e seus ministros.

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Paulo responde com uma correção firme e cheia de sabedoria. Ele diz: “Tudo é vosso... e vós sois de Cristo”. Em outras palavras: todos os líderes são dons de Deus para a edificação da igreja. Mas ninguém deve ocupar o lugar de Cristo. A igreja não pertence a Paulo, nem a Apolo, nem a Pedro. Ela pertence a Cristo. Quando a nossa fé começa a se apoiar na personalidade de um líder, no seu estilo, carisma ou eloquência, estamos desviando o nosso olhar do centro da fé cristã.

Esse problema não ficou no passado. Hoje, a igreja ainda lida com a tentação de valorizar líderes mais pela sua performance do que por sua fidelidade a Deus. Há quem escolha congregações com base na “qualidade da pregação” e isso nem sempre significa qualidade bíblica; muitas vezes significa apenas “quem fala melhor” ou “quem me emociona mais”. Outros buscam pastores que tenham carisma, humor, boa comunicação e influência online. Nada disso é errado por si só, mas quando esses elementos passam a ser os critérios principais de nossa consideração por uma igreja, estamos operando pela lógica da sabedoria do mundo.

A sabedoria do mundo mede tudo por aparência. Valoriza o que impressiona. Busca aquilo que entretém. Já a sabedoria de Deus nos chama a reconhecer a voz do Espírito mesmo quando o vaso é frágil, simples, ou até desconfortável para nosso gosto pessoal. Lembre-se: Deus fala até por jumentas (Nm 22.28), quanto mais por servos fiéis.

A maturidade cristã se revela quando conseguimos ouvir a voz de Deus mesmo quando o pregador não é o nosso preferido. Quando somos capazes de honrar todos os que servem no Reino, mesmo aqueles que não brilham aos olhos da cultura. Quando deixamos de esperar performances e passamos a desejar a Palavra, crua e verdadeira, como ela é.

Talvez, hoje, o pregador de quem você menos gosta seja exatamente o instrumento que Deus quer usar para tratar áreas do seu coração que ainda resistem à sabedoria da cruz. Talvez aquela pregação simples, sem muitos recursos, seja justamente a mais profunda. E talvez, ao buscar emoção ou estilo, estejamos ignorando verdades que Deus quer aplicar com exatidão em nossa vida.

Que o nosso coração não busque mais aplausos para homens, mas reverência ao Senhor. Que saibamos dizer como Paulo: “Quem é Paulo? Quem é Apolo? Servos por meio dos quais crestes”. (1 Co 3.5). Que olhemos para os líderes da igreja com gratidão, mas nunca com idolatria. Porque tudo é nosso, mas nós somos de Cristo. E é dEle que vem toda a glória.